quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Colheita de larvas de mosquitos


Durante este espaço de tempo houve oportunidade de irmos fazer uma colheita de larvas de mosquitos.
Nos últimos tempos tem-se verificado diversas alterações climáticas, estas manifestam-se através da frequência e intensidade de temperaturas extremas bem como ocorrência de eventos climáticos extremos como as cheias e as secas. Este tipo de ocorrências leva a que haja maiores riscos para a saúde pública dos seres humanos, havendo um aumento de doenças que provém da água, dos alimentos, da poluição atmosférica bem como as doenças transmitidas por vetores.
      Quando falamos de mosquitos falamos de vetores ou seja, artrópode, ou qualquer outro portador animado que transporte um agente infecioso, de um indivíduo (ou animal) infetado, ou das suas excreções, para um indivíduo suscetível. O agente infecioso pode ter de passar, ou não, por um ciclo, ou parte de um ciclo, de desenvolvimento no interior do vetor.
Os mosquitos ou culicídeos são uma das famílias mais primitivas da ordem Diptera, contendo cerca de 3500 espécies, possuem uma distribuição cosmopolita, à exceção de zonas geladas permanentemente. Cerca de ¾ das espécies vive na região tropical e subtropical, onde o clima quente e húmido favorece o seu rápido desenvolvimento e sobrevivência. Na tuna ártica o número de espécies é pequeno, mas a densidade no Verão é muito elevada.
Possuem metamorfose completa (divisão holometabola) e todos os mosquitos necessitam de água para poderem completar o seu ciclo de vida.
O ciclo de vida dos mosquitos passa por quatro estádios sendo eles:
·         Ovo;
Imagem 1-Ciclo de vida do Mosquito
·         Larva;
·         Pupa;
·         Adulto.

Vou fazer uma breve descrição dos quatro estádios anteriormente referidos.
No estádio Ovo estes são depositados sobre ou perto de água, escurecem durante as primeiras 12h-24h, a morfologia apresentada depende da espécie e o seu período de incubação é variável.
O estádio Larva é o mais importante neste momento, visto que foi neste estádio que eu, os meus colegas e o TSA Diogo Gomes efetuamos a recolha. Neste estádio a larva vive sempre em água, alimenta-se, passa por quatro períodos de desenvolvimento, no fim de cada desenvolvimento muda o revestimento do corpo e o seu corpo fica dividido em três regiões (cabeça, tórax, abdómen).
O estádio que se segue é o de Pupa, esta vive sempre em água, muito ativa, apresenta-se em forma de vírgula, neste estádio não se alimenta, o corpo encontra-se dividido em dois segmentos (cefalotórax e abdómen).
Os locais onde se podem encontrar as larvas e também as pupas dependem se nos encontramos em ambiente urbano ou ambiente rural. No caso de ambiente urbano podemos encontrar em:
·         Recipientes abandonados;
·         Pratos de vasos;
·         Lagos artificiais;
·         Pneus;
·         Sarjetas;
·         Águas residuais;
·         Bebedouros de animais;
·         Piscinas não vigiadas;
·         Vasos funerários em cemitérios;
·         Plásticos abandonados.
No caso de o ambiente ser rural podemos encontrar em:
·         Lagos;
·         Margens de rios paradas;
·         Sapais;
·         Salinas;
·         Arrozais;
·         Reentrâncias nas rochas;
·         Reentrâncias nas árvores;
·         Flores da família Bromeliácea;
·         Bebedouros de estábulos. 

E por fim o estádio de Adulto durante esta fase este emerge à superfície da água após a pupa se ter transformado, este período corresponde em média a dois dias. Tantos os machos como as fêmeas alimentam-se do néctar das flores, mas apenas as fêmeas se alimentam de sangue. A maioria das fêmeas requer uma refeição de sangue rica em proteínas para poder produzir os seus ovos.
As doenças transmitidas por vetores são doenças infeciosas transmitidas aos seres humanos e a outros vertebrados, por vetores como mosquitos e carraças, infetados por agentes patogénicos. Estas doenças apresentam frequentemente padrões sazonais distintos o que permite estabelecer uma associação ao clima. Algumas das doenças transmitidas pelos mosquitos são a malária, a febre do dengue, a febre amarela, a encephalitis equine oriental (EEE), o vírus ocidental do encephalitis de Nile e heartworm do cão. As fêmeas, que bebem o sangue, podem carregar a doença de um animal ou ser humano a outro enquanto se alimentam.
Devido ao facto destes vetores possuírem a capacidade de transmissão de variadas doenças que podem levar à morte, foi celebrado um protocolo entre as Administrações Regionais de Saúde (ARS), Direcção-Geral da Saúde (DGS) e Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) / Centro de Estudos de Vetores de Doenças Infeciosas (CEVDI), que desenvolveu a Rede de Vigilância de Vetores – REVIVE. Esta rede possui um programa designado de Programa Nacional de Vigilância de Vetores Culicídeos. Os objetivos deste programa são:
1. Criar formas de campanhas de educação, informação da população e comunidade médica;
2. Equipar as ARS’s para a colheita periódica ou esporádica de vetores culicídeos;
3. Vigiar a atividade de mosquitos vetores, caracterizando as espécies e a ocorrência sazonal em locais previamente selecionados e detetar atempadamente a introdução de mosquitos;
4. Emitir alertas para adequação das medidas de controlo, em função da densidade de vetores identificada.
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Fomos até a um local onde encontrámos dois recipientes com água estagnada, onde conseguimos identificar a olho nu sem grande dificuldade larvas de mosquitos. Esta ida realizou-se no período da tarde estando o local à sombra e a água estava muito fria.
O material utilizado para esta captura foi uma pequena rede, um garrafão de plástico cortado e a ficha de campo.
O procedimento utilizado foi com a pequena rede capturar o maior número possível de larvas e depositá-las no garrafão de plástico. Já na unidade de Saúde Pública arranjámos forma de isolar o garrafão de modo a que as larvas ao evoluírem não pudessem sair para o exterior, em seguida pusemos o garrafão no frio onde permaneceu até ser transportado.
Preencheu-se uma folha de campo que será enviada juntamente com as larvas para o Instituto Nacional Dr.º Ricardo Jorge onde se encontra o REVIVE.
A função geral do REVIVE passa pela identificação das espécies de vetores existentes em Portugal, a sua localização geográfica e a caracterização do seu papel enquanto vetor de agentes de doença. O REVIVE iniciou-se com a vigilância de mosquitos em 2008.
Um dos pontos fortes da nossa profissão é a prevenção sendo assim deixo aqui algumas medidas preventivas para o interior e para o exterior.

Exterior

·         Mangas compridas e calças quando os mosquitos estão mais ativos (manhã/pôr-do-sol);
·         Repelentes;

Interior

·         Redes nas portas e janelas; utilizar velas repelentes;
·         Eliminar águas estagnadas nas proximidades (pneus velhos, pratos dos vasos de plantas) que são habitats potenciais.
·         Cloro na água de fontes e piscinas.

Imagem 2- Recipiente com larvas de mosquitos



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