domingo, 22 de janeiro de 2012

Colheita de mosquitos e carraças e visita ao Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas (CEVDI)


            O TSA Diogo Gomes planeou uma atividade que consistia na colheita de mosquitos e carraças na cidade da Vila de Santo André. A colheita de mosquitos já não era uma experiência nova, como descrevi no separador de 7 de Dezembro. A colheita de carraças é que revelou um novo desafio.
Os ixodideos, vulgarmente designados por carraças, são artrópodes ectoparasitas hematófagos estritos. Existem em quase todas as regiões zoogeográficas, parasitando uma ampla variedade de hospedeiros como mamíferos, aves, répteis e anfíbios. São conhecidas aproximadamente 850 espécies distribuídas por três famílias: Nuttallielidae, Argasidae e Ixodidae. Nuttalliela namaqua, é o único representante da família Nuttallielidae. É uma espécie rara, apenas conhecida na África do Sul, que possui caraterísticas intermédias entre os elementos das outras famílias e cujo papel na transmissão de agentes infeciosos é desconhecido.
Na família Argasidae são conhecidas cerca de 170 espécies que, pela ausência de escudo dorsal, são designadas argasídeos ou “carraças de corpo mole”. Da família Ixodidae fazem parte cerca de 650 espécies de ixodídeos, vulgarmente designados por “carraças de corpo duro” pela presença de escudo dorsal. Nestas duas últimas famílias, cerca de 10% das espécies conhecidas estão associadas à transmissão ao Homem e a outros vertebrados, de agentes patogénicos responsáveis por várias doenças infeciosas como ricketsioses, borrelioses, ehrlichioses, tularémia, arboviroses, babesioses, entre outras patologias. Contudo, é a família Ixodidae a que se reveste de maior importância médica pelo número de espécies implicadas na transmissão de agentes patogénicos.
O ciclo biológico dos ixodídeos compreende quatro fases evolutivas: uma fase inativa - ovo e três fases ativas - larva, ninfa e adulto (macho ou fêmea).Durante as fases ativas, os ixodídeos alternam entre períodos de intensa atividade (procura de hospedeiro e alimentação) e períodos não ativos (metamorfose e diapausa), necessitando sempre de uma refeição de sangue para passarem ao estado evolutivo seguinte. Ao notável sucesso destes artrópodes, como vetores potenciais de agentes patogénicos, são associadas características biológicas singulares que os colocam, imediatamente a seguir aos mosquitos, como os artrópodes vetores de maior importância em Saúde Pública.
Dirigimo-nos ao local, que faz parte da reserva natural e realizámos a técnica do Flagging ou bandeira.

Técnica: Flagging (ou bandeira)
Objectivo:
 Colheita das carraças na vegetação
Material:
- Bandeiras para colheita na vegetação;
- Pinças;
- Luvas;
- Contentores adequados tubos plásticos com rolha (em casos excepcionais poderão sergarrafas de água secas ou tubos com álcool);
- Termómetro, higrómetro e GPS;
- Uso de vestuário adequado;
- O Boletim de Colheita que deve ser preenchido para cada local em que se efectuar a colheita.
Procedimento:
·         Passar de um pano turco, de cor branca sobre a vegetação;
·         A uma velocidade constante;
·         A cada cinco passos é necessário verificar se existem carraças agarradas ao pano para evitar que se soltem;
·         As carraças removidas são colocadas num recipiente , contendo algumas ervas tipo relva para manter a humidade até à chegada ao laboratório;
·         Como a entrega no  laboratório não é imediata, as carraças permanecem em condições de refrigeração.

Imagem 1- Passagem do pano turco pela vegetação 
Imagem 2- Termo-Higrómetro

Imagem 3- Retirar a carraça do pano com auxilio de uma pinça

Imagem 4- Recipiente com as carraças

            No dia seguinte à colheita das carraças e mosquitos houve a possibilidade de irmos até Águas de Moura ao CEVDI entregar os resultados das nossas colheitas.
O CEVDI é um centro de diagnóstico e investigação científica na área das doenças infeciosas transmitidas por vetores e com interesse para a saúde pública humana.
Nesta visita tivemos a oportunidade de ver algumas carraças e mosquitos ao microscópio, percebendo algumas das diferenças que os permitem distinguir entre as suas espécies. Visitámos todos os espaços constituintes do laboratório percebendo deste modo o seu funcionamento e os procedimentos utilizados pelos diferentes profissionais.
Ainda tivemos a oportunidade de visitar o museu, onde se encontram expostas várias antiguidades que eram utilizadas em tempos anteriores para a colheita e estudo tanto de mosquitos como de carraças.
Foi uma visita muito agradável e muito enriquecedora.
Imagem 5- Visulaização de uma carraça ao microscópio


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